top of page

você sente o que você sente?


a última vez que tive febre foi hoje à tarde. antes disso, três anos atrás.

comigo é assim, de três em três. ou mais.

por conta desse padrão, nunca tive um termômetro.

sempre foi questão de sentir e pronto.


aí chegou hoje.

estava me arrastando, corpo dolorido, olho ardendo, sem energia,

claramente a temperatura tinha subido.

meu método infalível de detectar febre detectou a febre.

senti e pronto.


ainda assim, aproveitei que precisava de uns remédios da farmácia e

voltei com um termômetro de lambuja.


vermelho. lindo.


meu primeiro termômetro.


cheguei em casa, coloquei no braço, 38 de febre.


não precisava dessa validação, mas queria estrear meu brinquedo.


no fim, ele confirmou o que eu já estava sentindo. eu não estava errada,

sabia exatamente o que sentia. sempre soube.


a gente sempre sabe o que sente.


agora estou aqui em casa meio puta por estar aqui em casa e meio realizada por ter

um termômetro aqui em casa. quando me perguntarem quando descobri que era adulta,

direi sem sombra de dúvidas: no dia em que comprei um termômetro.


já faz algumas décadas que estou nessa de ser adulta. pagar próprias contas,

ter produtos de limpeza preferidos - tupperware prefiro não por uma postura anti-plástico,

mas tenho lá meus potes queridos. aquela coisa toda. e agora, um termômetro.


que madura ter um desses…


ou


que insegura?


ter um negócio só para confirmar o que já sei...

sentir na pele toda a febre e ainda questionar se realmente estou sentindo...


a adultice tem dessas. a gente começa a se questionar.

é instintivo, mas a gente pensa duas vezes.

está claro, está óbvio, está escancarado em mim. mas, vem cá, será mesmo?

se estou sentindo, por que uma segunda opinião para confirmar

o que ninguém melhor do que eu mesma para dizer?


o que sinto é meu, é único, só eu sei.

e ninguém,

nem um termômetro vermelho lindo,

vai saber melhor que eu.


quando a gente sente o que a gente sente

não restam dúvidas.


a temperatura baixou - e digo isso com muita certeza, nem precisei de um atestado de fora.

o termômetro foi para a gaveta e espero não precisar da opinião dele daqui três anos.

mesmo que tenha febre.





bottom of page