vira e mexe lembro quando, certa vez, li o jô soares falando
que intimidade mesmo é dormir junto.
dormir no sentido literal, mais do que sexo.
porque é aí que estamos supervulneráveis,
roncando, babando, sei lá.
há também a ideia de que intimidade
é estar bastante com a pessoa,
sempre do lado, sempre em tudo.
viver junto.
concordei até outro dia.
agora afirmo que intimidade
, intimidade mesmo,
é quase morrer com a pessoa.
eu e duas amigas, que até então considerava íntimas,
passamos por maus bocados em situação que envolvia
risco de vida, dúvidas, resgates e afins.
quase morremos juntas, enfim.
sobrevivemos juntas, no fim.
mas sobreviver a gente já sabia como era antes
, não tinha novidade. o novo aqui era morrer.
quando você tem essa possibilidade tão ao seu alcance,
muitas coisas, antes inacessíveis, vêm à tona.
dúvidas, perguntas, instintos, medos, incertezas,
choros, gritos, surtos, sustos e outras reações adversas.
coração na mão.
mas peralá que também tem coisas boas,
como solidariedade, amor, preocupação,
cuidado, abraço, olhar, esperança.
mão no coração.
a gente nunca sabe quando vai morrer,
só sabe que vai. ah, vai.
e deixa isso desacordado no canto, como um sonho
- ou pesadelo, depende se é noite.
mas o que a gente nunca sabe de verdade é
qual vai ser a nossa reação diante da morte.
o inesperado vem, o descontrole e o desconhecido também.
morte, afinal.
e quando acontece, parece um sonho
- ou pesadelo, depende da noite.
você está ali supervulnerável, roncando, babando, sei lá.
morremos sozinhos, essa é a máxima.
e é o máximo de intimidade que existe.
afinal, estamos nessa por conta própria,
desacordando em sentimentos únicos
que nunca serão compartilhados, afinal, morreremos.
ao mesmo tempo expostos e guardados ao nosso próprio desconhecido.
uma experiência particular, sem ter com quem dividir depois.
nem como.
teme-se a morte
ou o medo é desse íntimo consigo mesmo?
é por isso que quase morrer junto com alguém é a maior das intimidades.
…
fomos resgatadas
, vivas.
viva!
na mesma noite dormimos juntas, na mesma cama e tudo.
não sei se roncamos, babamos ou sei lá,
sei que rimos da situação de horas antes,
porque o pior já havia passado,
havíamos passado juntas,
e, agora, futuro também.
sobrevivemos, como antes.
sobre vida, como nunca antes.
e sempre que morrer um pouquinho
lembrarei que tudo bem roncar babar sei lá,
sem me esconder.
exposta como nos sonhos
- ou pesadelos, depende do dia.
íntima da vida.
foto de nine koepfer na unsplash.
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