acho um barato a estratégia de marketing das incorporadoras imobiliárias
paulistas de distribuir panfleto na porta das padarias.
que é a mesma estratégia das marcas de guloseimas: colocar chicletes e
chocolates no caixa para estimular a compra por impulso, aquela de última hora.
fico pensando quantas pessoas já saíram de casa para pegar meia dúzia de pãezinhos e
voltaram com um duplex de entrega prevista para maio/2023.
vai pagar com dinheiro, cartão ou financiamento?
outro dia um desses me abordou no meio da rua, literalmente, e longe de uma padaria -
a mais próxima estava a uns seis ou sete quarteirões. achei inovação com toque de desespero.
cogitei ajudar e levar uma unidade, mas estava sem carteira.
a tática é antiga e se espalha pelas padarias da cidade, então algum sucesso deve ter essa ideia
de oferecer coisas inesperadas em locais improváveis.
é como os chaveiros, que também são xerox, que também fazem carimbo, que por vezes
vendem galões de água e que, já vi, ainda agregam um açougue. abrangente. um apanhadão
porque alguma coisa há de vingar, alguma pedida vai convencer.
ou a revistinha da avon, que você abre para ver um esmalte e termina com uma coleção completa
de oito potes plásticos coloridos e uma engenhoca para fechar embalagens específicas, como salgadinho.
e você não come salgadinho.
ou a vez em que, isolada numa praia sem comunicação, entrei num hostel para usar o wifi e
sai com um colar até hoje sem uso e um incenso que vende também aqui na esquina de casa.
ou quando minha prima foi ver flores para casa e quase levou uma estufa para cultivar maconha.
ela não tinha interesse algum em cultivar maconha.
ou quando saí só para andar com meu cachorro às seis da tarde, sem carteira e celular - afinal,
era apenas o xixi dele, e acabamos voltando para casa às quatro da manhã, eu bêbada e ele exausto.
ou quando eu estava em londres, saí para um museu e voltei para casa com um
novo trabalho no brasil, que esperaria o meu retorno, dali a três meses.
nunca se sabe o que pode acontecer no caminho... quantas vezes já saímos para comprar pão e
voltamos com um apê recém-lançado que você nem estava procurando?
e aí discordo de mim mesma e percebo que o marketing imobiliário de são paulo tem
sua razão de ser, sim. é uma estratégia que se vale das pessoas que estão abertas às oportunidades.
é no inesperado que vivem as grandes surpresas e aquela história toda. estar aberta às novidades
que a vida coloca no caminho.
lembrei daquele cara muito conhecido nos anos 80 que saía para comprar cigarro e não voltava mais.
vai ver ele só era uma vítima do panfleto… enquanto abria o maço na saída da padaria, foi abordado
por uma oportunidade única com três quartos e área de lazer completa. e ainda tem sauna?
vem comigo, no caminho explico, cantarolava o vendedor. vem comigo, vai ser divertido, completava o cazuza.
photo by césar guel on unsplash
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