que mulher interessante é você.
e me apaixonei.
de cara fiquei constrangida,
como se tivesse denunciado
um alface esquecido no meu dente.
nunca estive preparada para receber
elogios interessantes assim de um homem.
(sou de uma geração em que mulheres valiam
mais por fora que por dentro.
e toda essa geração chegou a acreditar nisso)
foi essa a escolha de palavras.
não falou o que o espelho já me dizia.
não falou o que todos tinham dito até ali.
não falou do que tenho.
falou do que sou!
decidiu que gostava das minhas escolhas, histórias, manias.
que mulher interessante é você.
você falou.
e meu interesse, que geralmente é passageiro,
dessa vez não passou.
resolveu ficar para ver no que ia dar.
e deu no que deu...
naquele e-x-a-t-o momento aconteceu o que não acontece fácil.
naquele e-x-a-t-o momento me apaixonei.
naquele e-x-a-t-o m-o-m-e-n-t-o.
bem, começou antes com o seu sorriso, mas isso é outra história.
que mulher interessante é você.
eu ouvi.
tá, a gente não precisa da aprovação do outro.
a gente sabe que é, a gente se convence de que é,
a gente tem dúvidas e, ao mesmo tempo, no fundo sabe que é.
mas é difícil a gente acreditar que é.
às vezes o que precisa é que alguém venha e fale o que está na nossa cara.
e, mesmo sendo elogio, pode constranger
porque revela uma verdade que temos medo de admitir,
por modéstia ou insegurança.
(ou por não estar acostumada mesmo, afinal, é uma outra geração de elogios)
no fim das contas, é realmente como ter um verde no dente.
a gente imagina que possa ter, a gente até chega a sentir a presença dele,
mas fica sem saber se a couve está lá de fato ou se é coisa da nossa cabeça.
aí, quando alguém olha de fora e confirma, a gente fica meio sem jeito e pensa:
então eu não estava errada.
ganha confiança e a partir daí é com você!
sabe direitinho o que fazer. e não precisa mais disfarçar, tentar esconder...
porque repararam mesmo com medo de mostrar.
e ficou tudo bem.
sorri finalmente e aliviada.
mas voltando ao assunto, me apaixonei.
aí uma coisa interessante aconteceu: não aconteceu.
(será que não sou mais uma mulher interessante?)
senti aquela coisa interessante escorrer pelas minhas mãos.
tentei segurar, mas o que escorre não corre atrás.
fiquei. ali. de. mãos. fechadas. tentando. segurar. tentando. entender. sentindo. e. ouvindo.
que mulher interessante é você.
chorei.
mulheres interessantes também choram.
também sentem medo. também têm insegurança.
também se apaixonam (e, talvez, por essa você não esperava).
mas como essa é uma história interessante, outra dessas aconteceu.
ali, tentando segurar o que me escapava, reparei que algo tinha sobrado comigo:
que mulher interessante é você.
isso foi o que ficou porque
sempre esteve ali,
sempre foi meu,
sempre fui eu.
é a minha verdade que você só tratou de ressaltar.
só tratou bem.
o verdinho tá aí,
você falou,
agora você sabe o que fazer com ele,
eu ouvi.
(e isso é novo. imagina revelar o verdinho no dente na minha época?
o que pensariam de mim?)
foi então que percebi outra coisa interessante nesse e-x-a-t-o momento:
me apaixonei sim,
mas foi por mim mesma.
caramba,
que mulher interessante sou eu.
gosto muito dessa mulher
que não precisa mais esconder o verdinho nos dentes.
e está tudo bem.
e me sorri finalmente e apaixonada.
muito obrigada.
(você também tem um verdinho nos dentes, aliás)
photo by jason leung on unsplash
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