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se for legal já tá legal

cortador de vegetais

dizia a embalagem, que ainda tinha uma foto toda-toda do acessório.


aqui em casa, cortador de vegetais é carinhosamente chamado de

a-faquinha-de-cabo-preto-na-primeira-gaveta. mas esse era diferente,

esse tinha nome próprio (composto!) e vinha na estica.


nada mais posso falar sobre ele: se tem habilidades artísticas de transformar cenouras em flores,

se é elétrico, se corta de tudo ou só cebola. o que sei é que tem pompa e foi muito celebrado.

não por mim, por uma amiga. foi ela quem decidiu que merecia (sim!) mais do que uma

faquinha para fatiar seus pepinos e comprou um cortador de vegetais.


nada disso ela me contou, ela postou! feliz da vida, achou que o acessório merecia (sim!)

espaço entre uma foto e outra do filho. curti, comentei, reconheci a felicidade.


uma celebração ao cortador de vegetais!


antes dele, eu tinha passado por pães, palavras de luz, céus rosas, engajamentos,

patrocinados, a turma de 83, calorias perdidas, também as ingeridas,

bebês espertos e cachorros que parecem bebês...

mas foi para o cortador de vegetais que resolvi dedicar a minha atenção.

porque fiquei alegre de ver a alegria por um item tão cotidiano (e, convenhamos, desalegre),

a ponto de merecer (sim!) reconhecimento-destaque-foto-e-tudo.


porque foi um entusiasmo espontâneo e genuíno. a imagem postada era uma caixa de papelão

com restos de fita adesiva rasgada, provavelmente, por uma faquinha (dessas que aqui em casa

cortaria batata doce). dentro dela, um monte de papelzinho pardo amassado para o conforto

da peça de honra - ela merece (sim!). nada de produção... não deu tempo, aquela realização

precisava ser dividida com o mundo o mais rápido possível.


porque me fez sorrir. pensei em quando era criança e o papel de presente entretinha mais que a boneca,

e um cobertor virava uma noite na floresta, e um shampoo virava show.


quando o shampoo deixou os palcos?


penso, penso e não consigo lembrar o exato momento em que perdemos a graça das coisas.

porque não são as coisas que perdem a graça, nós é que a deixamos em algum lugar pelo caminho.

pouco caso ou distração, ela vai se enroscando no varal, na pia, na melatonina...


no fim das contas, cobertor sempre foi cobertor, mas era legal saber que podia ser mais do que isso.

e-r-a-l-e-g-a-l e isso bastava para animar a gente.


uma celebração (sim!) ao cortador de vegetais!

ele não vai escapar do rodízio, nem dar um pulinho no cartório para reconhecer firma,

e só resolve os pepinos que estiverem na salada. mas (você há de concordar!) é

l-e-g-a-l-d-e-m-a-i-s ver um vegetal muito bem cortadinho.



(photo by FOODISM360 on Unsplash)




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