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sai dessa pilha

eu tenho uma teoria: a pilha é a maior prova de que o ser humano não gosta de mudanças.

estou falando da pilha mesmo, da duracell, rayovac, alcalina, genérica da china, AA, AAA, AAAAAAAAAAAAAAAA….


(nunca sei quantos a's, sai sempre como um desabafo. ou um grito de desespero. ou uma decepção.)

enfim, o que vou falar a seguir vale para qualquer item que precise de pilhas para funcionar,

mas escolhi usar o ícone deles: o controle remoto.


ele está funcionando bacana até que começa a dar uns crecs, canal nem sempre muda,

volume precisa de uns apertões a mais para acordar… o diagnóstico é claro:

é hora de trocar as pilhas.

o que a gente faz? faz que não entendeu.


dá uns tapas no controle que, intimidado, segue mais algum tempo sem reclamar.

passam dias ou semanas, depende da procedência da pilha, e ele volta a engasgar.

o que a gente faz? faz que não é bem assim.

abre a portinha e gira as pilhas cansadas. veja: s-i-m-p-l-e-s-m-e-n-t-e-g-i-r-a! por dó ou apego,

elas ganham uma sobrevida. até que o intervalo entre espasmos fica menor e a falta de ânimo

delas para trabalhar, maior.


peloamordedeus, troca essas pilhas, implora o controle remoto. tudo vai ser diferente,

tudo vai funcionar melhor, ele garante.

e o que a gente faz? faz que não ouve.


abre novamente o compartimento, deixa as ditas respirarem, muda todas de lugar entre si -

mesmas pilhas, mesmo aparelho, mesma portinha, mas caminhas diferentes. aí fechamos

com o expertise de cirurgião cardíaco, oramos, pedimos em sussurros que elas contribuam,

damos um tapinha só por garantia (funcionou da outra vez, ué). e voilá! essa dança das cadeiras

parece ter algum fundamento e funciona por um tempo, ainda.


as pilhas vão aguentando o que podem enquanto esgotam todas as possibilidades.

nós seguimos na mesma, acreditando estar tudo sob controle.


porque nós apostamos na relação duradoura das pilhas. mais: que durarão para sempre.

só que o sempre nem sempre dura para sempre. aí uma hora a hora chega para valer e

perdemos completamente o controle do controle. AAAAAAAAAA que desespero que dá.

e o que a gente faz? faz a contragosto.


finalmente vai e troca as benditas.


AAAAAAAA bando de incompetentes, deixaram na mão quando mais se precisava aumentar o volume.

nesse momento é preciso aceitar e seguir em frente, nada é insubstituível, afinal.

mas, poxavida, no começo parecia que estava tudo bem, a energia era clara…


enfim, finalmente vai e troca as benditas.


a compra é feita com dor no coração - porque ô coisa cara. e sempre envolve um desconforto

na despedida das (agora) antigas - é só jogar no cesto específico do mercado, mas se não trocamos a dita,

quiçá ousar um novo lixo, não é mesmo?


e aí é isso, o ser humano é tão avesso a mudanças que faz de um tudo para manter a mesma pilha

pelo maior tempo possível. a boa e velha preguiça ou a tal da zona de conforto, como diz.


conforto de quem? da duracell exausta? do controle remoto sem energia? da sua paciência esgotada?

da situação que claramente não funciona mais? quem está confortável a essa altura do campeonato?

seres humanos, entendamos de uma vez por todas: tem uma hora que a coisa esgota mesmo e


aí não tem o que fazer.


é quando você se liga e aprende com a sua pilha queridinha inseparável, aquela que mostrou que,

mudando de lugar, as coisas ganham um novo pique:


mexa as coisas e troque a energia.


a gente vai, insiste, nega, tenta dar um jeito, acha que tem o controle nas mãos.


não tem.


isso sim não vai mudar.






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