essa é uma história de uma história triste.
começa normal.
um dia comum, em um bairro comum, com pessoas comuns. de repente chega um veículo que
um dia já foi comum também, mas hoje vive na pele de uma entusiasmada e efusiva e barulhenta festa.
esses carros de som embrulhados para presente em adesivos positivos, balões coreografados pelo vento, alto-falantes altos e falantes, que desejam felicidades e tudo de bom e aquela coisa toda.
então a história fica alegre.
como manda a tradição, o veículo chegou de repente (nunca avisam), num fuzuê danado (sempre fazem), gritando pela pessoa que inspirou o auê. ao redor, os cúmplices (sempre gostam desse título) e curiosos (sempre eles) se aglomeram no meio da rua para a festa que, apesar de surpresa, não é nada discreta.
vizinhos desinteressados acabam entrando nessa também (nunca têm escolha).
todos a postos! xuxa pra cá, ivete pra lá, varandas tomadas por reações diversas, mas todos unidos por
uma só expectativa: a chegada da aniversariante - fosse para comemorar, fosse para acabar logo com isso.
e é aí que a história fica triste...
o microfone anuncia o nome uma, duas, oito, um sem-número de vezes e ninguém aparece. não sei
o motivo. aliás, essa história nem é minha, eu ouvi um dos desinteressados contando. alguém que presenciou,
lá do seu camarote, a alegria chegando e dando com a cara na porta que a vizinha não abriu.
por isso achei triste. a festa foi até lá entregar felicidades em uma data querida.
desejou tudo; e a fulana, nada.
será que não saiu porque teve vergonha de ser feliz na frente de todo mundo?
fazia outra coisa e ficou sem tempo para receber a felicidade?
ou achou que a felicidade podia esperar? não podia. foi embora.
e essa história, que já é triste, ainda por cima é sem final feliz. não pela tristeza, mas porque
não tem um final mesmo. o carro levou o cano, foi berrar em outro portão,
as varandas fecharam as cortinas, acabou o show. isso é tudo o que sei.
mas fico aqui pensando que fim levou a fulana?
final 1:
a fulana não estava em casa - felicidade é estar no lugar certo, na hora certa?
final 2:
mais tarde, a fulana pegou o vídeo que a amiga (cúmplice!) fez da festa e postou.
todo mundo achou que ela estava sendo feliz.
final 3:
elas, a fulana e a felicidade, se encontraram depois para uma cerveja.
às vezes, momentos felizes não fazem tanto barulho e a gente só quer é curtir isso no nosso canto,
sem cúmplices, sem curiosos, sem a xuxa cantando de fundo.
final 4:
a fulana estava feliz demais dançando com seus próprios balões e nem ouviu a ivete lá fora.
final 5:
a fulana só estava no banho mesmo. uma desculpa comum, mas boa para acabar logo com isso.
fim.
photo by Pineapple Supply Co. on unsplash
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