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e . r . v . i . l . h . a

talvez você vá gostar menos de mim a partir de agora,

mas assumo essa bronca: eu como uma ervilha por vez!

sim, espeto uma a uma.

levo

à

boca

uma

a

uma.


o que isso significa? talvez nada, mas costuma gerar desconforto e discussão na mesa.

por vezes irritação e rebelião.


nunca levei para a terapia, mas posso arriscar algumas coisas.

paciência de sobra, tempo também.

valorização o pequeno alimento.

necessidade de chamar a atenção.

mentira nem de ervilha eu gosto, estou falando isso só para puxar papo.


mentira, eu gosto sim. e não entendo quem não. uma coisinha que mal tem gosto, poxa vida.

é mais pela experiência mesmo, aquela bolinha perfeitinha, bonitinha, toda verdinha, maciazinha,

sempre em grupinho, mesmo assim soltinha cada uma na sua.

acho uma fofura, quase dá dó de comer. mas passa e como.


uma


a


uma.


irresistível.


lembro daquela fábula a princesa e a ervilha que tem outra moral da história (e aí é outra história),

mas trago aqui porque mostra o poder que uma só ervilha tem.

é capaz de muito impacto e faz a diferença.


já a sopa de ervilha não, aí é meio sem graça mesmo.

mal tem gosto, assim como a ervilha in natura, só que nessa versão perde

a riqueza dos detalhezinhos. vai tudo direto goela abaixo, a gente nem curte, nem sente.


quando eu tive crise de ansiedade, anos atrás, eu já não diferenciava nada na minha vida.

ontem-hoje-amanhã-daquiapouco-aqui-ali-estou-jáfui era tudo a mesma coisa. um borrão.


uma maçaroca, dias e acontecimentos sem nenhuma distinção entre eles.

a vida ia sem sabor, sem graça. era uma sopa de ervilha, vários pequenos momentinhos

que poderiam ser degustados, mas não eram.


isso sim eu levei para a terapia e aí comecei a aproveitar o tempo de uma outra forma.

fiquei chocada em como cabe coisa dentro de cinco minutos. aprendi a estar aqui enquanto estou aqui

e ir para lá somente quando for para lá. descobri que cada um tem sua hora de falar.

e de ouvir. e de acontecer.


degustar as ervilhas

uma

a uma.


porque se for tudo junto, mistura e

a gente deixa de aproveitar cada momento.


viver uma coisa por vez para poder sentir todas as coisas.

é pela experiência mesmo.





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