sou devota de dizque.
essa é uma entidade que gosto muito porque está sempre comigo, vive intervindo positivamente
na minha vida e me salva de situações diversas.
aparece em horas específicas. sabe quando você quer contribuir para a conversa de alguma forma,
com um toque de credibilidade, mas, ao mesmo tempo, se eximir de toda e qualquer responsabilidade?
então, joga na conta do dizque.
diz que vai chover.
diz que dólar cai semana que vem.
diz que o casamento deles não vai tão bem assim.
diz que esse restaurante tem uma banoffee excelente, mas é ruim de estacionar.
quem disse?
disseram. uma entidade, um ser maior,
a voz do anjo sussurrou no seu ouvido.
não importa exatamente quem, importa que a-l-g-u-é-m disse e a informação está-aí!.
você resolve o problema com a benção de dizque.
parecido ao amigo da prima, também popular nessas condições. mas esse é menos sábio e
mais aquele que passou por todas as experiências - especialmente as constrangedoras,
que tem as dúvidas - em especial as mais estúpidas.
qualquer coisa, joga na conta do amigo da prima também.
invocar o dizque é uma boa porque
um. você personifica a informação-pergunta-o que for. e aí o argumento fica encorpado e ganha força.
uma história completa, sabe? tem fatos e personagens, ninguém vai questionar. dá até a impressão
de que sabe do que está falando e não está inventando aquilo. estamos cansados de saber que
santo de casa não faz milagre, aí, nesse caso, a gente terceiriza o conhecimento.
dois. tem fonte. o que dá aquele ar de jornalismo, de que você foi atrás ou, melhor ainda!, de que a
história veio atrás de você. é quase um milagre! e te faz especial porque…
três. soa como uma exclusiva. ninguém na conversa sabe como responder? pois você sabe.
invoca o dizque e amém. dá um tom de conhecimento, seriedade e mistério. seria uma heresia
do ouvinte duvidar. e, ao mesmo tempo…
quatro. tira a responsabilidade de si, ufa, joga toda e qualquer culpa pelo relato em seja lá quem te falou (no caso, dizque é quem assume essa bronca). e aí, se nada daquilo fizer sentido, não sou eu quem está dizendo, estou apenas repassando. não culpe o mensageiro porque meu santo é forte!
cinco. e fim de papo. sim, porque se por um lado a tática ajuda a puxar um papo, rapidamente também
é capaz de encerrar. um verdadeiro santo. além de versátil.
veja na prática:
será que vai chover? dizque sim!
eficiente, direto, confiante, informativo, preciso.
curto e pronto. uma benção.
será que vai chover? parece que sim…
percebeu como perde força, é impreciso, ninguém confia muito e ainda exige um complemento?
parece que sim… olha o céu escuro, o vento, a dor no joelho… difícil crer nesse discurso.
e isso é tudo o que sei sobre dizque, uma entidade cuja identidade nunca é revelada.
afinal, a gente conta o milagre, mas não fala o nome do santo. dizque é assim.
photo by ramez e. nassif on unsplash
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