segunda-feira é segunda-feira, não tem adjetivo melhor para esse dia.
a semana começa com tudo indo, mas todos querendo voltar.
o bom dia vem acompanhado do bom dia pra quem?, e nem sempre esse adendo é mental.
então a muito custo, depois de 24 horas - que, convenhamos, mais pareceram 48 -
chega a terça-feira.
mas ninguém se deixa enganar: a terça-feira não passa de uma segunda-feira revisitada.
uma segunda-feira que tentou melhorar, mas não cola.
é aquele sorriso amarelo que aparece quando acaba o assunto no primeiro encontro ruim.
olhamos para o lado implorando por alguma distração, algum tema, alguma rota de fuga, algum incêndio.
nada.
é a segunda que tentou a repescagem.
sem sucesso, próximo!
a quarta-feira é um dia sem identidade.
não tem nem a melancolia do começo da semana, nem a euforia do final.
passa!
e f-i-n-a-l-m-e-n-t-e chega a quinta-feira.
ninguém se importa com o trânsito, com as contas, com o trabalho extra.
afinal, sexta-feira está chegando.
e por que não comemorar com uma cervejinha bem gelada saindo daqui?
um brinde ao fim-de-semana e traz aquela saideira porque sair ninguém quer.
já é sexta na austrália!
aí vem ela, a sexta-feira.
vem sedutora e confiante, sem arrogância, sem pretensão, sem causar furor.
porque é desejada, e ela sabe que é.
começa útil e vai desacelerando, tirando hora por hora num striptease emocional.
a gente se entrega aos poucos também. no começo tenta manter a linha, se faz de comprometido.
mas logo começa a deixar de lado o resto do mundo, tem olhos só para ela.
cancela o que tinha - por vezes esquece mesmo, não atende o celular,
joga compromissos no colo da segunda e se entrega.
sexta não é um dia, é um flerte. e a gente flerta
como se o amanhã fosse sábado!
ah, o sábado...
o dia em que tudo pode acontecer. o dia que tem 24 horas - e, convenhamos, mais parecem 120 minutos.
esperamos tanto e não dura o tanto que esperamos.
como fazer tanto encaixar nele?
deviam fazer um modelo mais atual do sábado.
desses que cabem todos dentro,
que levam a gente para tudo o que é canto,
que saem do caminho numa trilha inesperada,
voltam para a cidade
e terminam numa linda cachoeira.
ou num bar.
ou na piscina de um prédio que não é seu.
é isso, todos os sábados deveriam ser como um comercial de SUV.
mas não é.
a gente tenta de tudo, encaixa o que pode, quem pode, mas no fim das contas sempre
sobram drinks, planos e afins para depois.
e tudo bem, é sábado.
até chegar o domingo.
o sétimo dia, sagrado, criado especialmente para o descanso. e curar a ressaca.
e esquecer que segunda vem aí e fazer um churrasco. e ver a família.
e correr no parque para diminuir os danos de ontem. e dar uma passadinha para ver
o filho do amigo que nasceu há dois meses, mas era sábado e não deu tempo de visitar.
e ir na piscina para fazer valer o condomínio. e se enroscar em alguma série...
o domingo começa com essa carinha de sábado e, apesar de terminar em pizza,
o cheirinho no final do dia é de segunda-feira. aí adormecemos (ou não conseguimos dormir)
com o gosto do brinde da quinta,
desejando que nosso amanhã fosse sempre uma sexta-feira.
photo by Sincerely Media on unsplash
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