eu dobro só as pontinhas dos dedos.
falange distal, chama, aquela primeira parte que tem a unha, sabe?
então, eu dobro só esse pedacinho...
outras aptidões que tenho:
levanto uma só sobrancelha por vez,
dobro a língua,
e costumava subir só uma parte do lábio, como se tivesse um anzol preso. mas isso
já tem anos que não consigo mais.
é certo que você faz essas e/ou outras e, se não faz, aposto que está tentando nesse momento.
vai fundo!
eu espero e apoio, porque eu mesma gosto de expor esses truques ao mundo. vira e mexe
coloco em uma roda de conversa.
é perturbador e curioso para quem vê.
para mim, é divertido e curioso ver a reação das pessoas.
o ser humano tem essas habilidades irrelevantes, mas que são
legais demais
e só por isso já valem a pena.
fico pensando como descobri que faço tudo isso.
como (c-o-m-o-!)? em que condições? o que motivou? o que se passava na cabeça?
não é o tipo de coisa que se manifesta naturalmente, é preciso ir atrás dela e se dedicar nessa exploração.
tem que se interessar. se conhecer.
ter curiosidade. ter ousadia.
talvez um pouco de tédio...
mais que tudo,
tem que ver graça nas pequenas coisas.
aí a gente fala hum, e se eu dobrar só o primeiro pedacinho do dedo?.
vai lá, tenta, consegue, se surpreende,
olha... só a pontinha dobrou.
sorri e guarda
porque não tem muito o que fazer com aquilo.
mas guarda sorrindo.
na prática,
nada disso serve para nada.
na teoria,
não tem nem teoria porque não significa absolutamente nada também.
mexer a orelha sem usar as mãos - tenho mais essa! - não faz de mim alguém especial.
esquisita, talvez, mas se não conseguisse daria na mesma. vida que segue.
segue com esse twist gostoso.
e-esse-é-o-ponto.
porque é batata: sempre vai ter o momento de compartilhar essas descobertas com o outro.
aí eu rio, quem tá comigo ri, todos rimos.
e também todos tentam imitar - a gente sempre se sente desafiado pelas esquisitices alheias.
e vira uma roda de experimentações e risadas.
legal demais.
alguém que não lembro quem faz microbolinhas com a própria saliva. já pensou ter bolhas de sabão
sempre que quiser? é divertido. nunca tentei porque acho um pouco nojento, mas percebo a graça.
e aquelas que encostam o dedão no antebraço?
as que tocam o nariz com a língua?
e tantas outras coisas que me fugiram agora?
tem o inverso também. quando acham graça porque você não faz algo dito banal.
tipo assobiar.
eu não assobio de maneira alguma. já tentei todas as dicas que as pessoas passam - e
é impressionante a quantidade de técnicas, viu? elas ficam até um pouco putas com
a minha dificuldade. nesse caso, é uma anti-habilidade que gera curiosidade nos outros.
alguém que não sabe assobiar?
no fim, todos dão risada (nesse caso, de mim) e aí vem o inevitável momento experimentação,
com demonstrações de todos apresentando seus mecanismos de assobio e vira uma grande sinfonia.
um grande barato.
por outro lado, uma grande pena, eu acho, é termos a mania de subestimar essas
habilidades menores e menos necessárias só porque disseram que tudo tem que ter uma função.
não tem que.
e vida que segue.
pensando bem, elas têm função sim: fazem sorrir.
e por isso já vale a pena.
assim é a vida também, cheia de uns acontecimentos mais corriqueiros,
aparentemente irrelevantes, uma cotidianices menores menos necessárias,
mas que fazem sorrir.
só que acabam ficando de lado porque dizem que a gente tem que be happy o tempo todo.
não tem que.
be contente com essas pequenezas também é um grande barato.
são pedacinhos de alegria que dão um twist gostoso, sabe?
tipo dobrar a primeira falange do dedo, que é legal demais.
e é de alegriazinha em alegriazinha que a gente se enche de alegria.

photo by franco antonio giovanella on unsplash
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