você conhece o farfalhar?
com certeza sim - se disser que não, vou gentilmente discordar e afirmar que conhece sim,
só não se deu conta disso.
far.fa.lhar: sucessão de sons indistintos, como o do vento nas ramagens, o da agitação de papeis, sedas etc.
é o que me diz o dicionário.
sempre gosto de palavras específicas assim, que não precisariam existir. aqui, por exemplo, poderíamos
usar barulhinho ou sonzinho. no diminutivo, claro, porque tem mais a leveza desse movimento.
mas não: alguém achou necessário determinar um verbo para esses sons indistintos.
(indistinto, aliás, é: sem definição; pouco claro ou evidente; incerto, indefinido, vago.
um termo tão preciso descrito como vago…)
ao que parece, pode envolver situações sortidas (e seda lá faz barulho?), mas eu só vejo o farfalhar
associado às folhas mesmo. bem… isso quando eu vejo, né? não me lembro qual foi a última vez (quiçá a primeira) que precisei recorrer a ela.
o curioso é que essa palavra apareceu nos últimos três livros que li. em todos ela acompanhava árvores, naturalmente. e aí fiquei pensando que é farfalhar demais para tão pouco tempo. é uma tendência ou
o farfalhar sempre esteve aí e eu que não reparava?
pois é: pura desatenção minha. afinal, vento e folhas estão por todo canto. o farfalhar sempre esteve
ao nosso redor, só não damos a devida atenção. no meio do escarcéu das nossas vidas, os sons indistintos
das folhas são abafados pela algazarra de outros ruídos nem tão distintos assim.
o fato é que se repararmos mais nas árvores, notamos o farfalhar.
quase um sussurro, mas ainda um farfalho.
ninguém chega a dizer "que belo farfalhar" (talvez agora falem, sim),
mas é possível perceber que tem algo farfalhando ali.
viu como você conhece, só não tinha se dado conta?
e se alguém notou a beleza desse sutil embalo das folhas a ponto de criar um nome específico,
deveríamos dar mais atenção porque algo especial tem. e o que mais pode estar farfalhando
por aí e a gente nem repara?
vamos abraçar as árvores e de tudo mais o que for de farfalhar.
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